sábado, 12 de janeiro de 2013

100 anos de Rubem Braga - Minhas primeiras leituras



Conheci Rubem Braga pequena, bem pequena, na coleção Para Gostar de Ler.
Aprendi ali sim a gostar de ler... mais: aprendi que a inteligência e a beleza são tão simples quanto um passarinho.



Negócio de menino 

Tem dez anos, é filho de um amigo, e nos encontramos na praia: 
- Papai me disse que o senhor tem muito passarinho... 
- Só tenho três. 
- Tem coleira? 
- Tenho um coleirinha. 
- Virado? 
- Virado. 
- Muito velho? 
- Virado há um ano. 
- Canta?  - Uma beleza. 
- Manso? 
- Canta no dedo. 
- O senhor vende? 
- Vendo. 
- Quanto? 
- Dez contos. 
Pausa. Depois volta: 
- Só tem coleira? 
- Tenho um melro e um curió. 
- É melro mesmo ou é vira? 
- É quase do tamanho de uma graúna. 
- Deixa coçar a cabeça? 
- Claro. Come na mão... 
- E o curió? 
- É muito bom curió. 
- Por quanto o senhor vende? 
- Dez contos. 
Pausa. 
- Deixa mais barato... 
- Para você, seis contos. 
- Com a gaiola? 
- Sem a gaiola. 
Pausa. 
- E o melro? 
- O melro eu não vendo. 
- Como se chama? 
- Brigitte. 
- Uai, é fêmea? 
- Não. Foi a empregada que botou o nome. Quando ela fala com ele, ele se arrepia todo, fica todo despenteado, então ela diz que é Brigitte. 
Pausa. 
- O coleira o senhor também deixa por seis contos?
- Deixo por oito contos. 
- Com a gaiola? 
- Sem a gaiola. 
Longa pausa. Hesitação. A irmãzinha o chama de dentro d'água. E, antes de sair correndo, propõe, sem me encarar: 
- O senhor não me dá um passarinho de presente, não? 

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